Thomaz/João #13

Caro João,

Não vou me alongar no assunto “Breaking Bad”, visto que  tratei-o longamente num post do meu blog pessoal recentemente. Pontuo somente que o prazer, em Breaking Bad, depende em grande medida do fato de que Walt não é absolutamente mau, e que tudo de mau que ele faz tem um peso que é sempre muito sentido. A série jamais passa levianamente sobre a morte, por exemplo. Prova disso é a maneira como Walt absorve traços de todos aquele que ele mata. A morte é algo verdadeiramente tangível, cujo peso é recuperado em um mundo que não só a transformou em banal – a máfia, o tráfico, a violência de modo geral – como a esconde ou ignora e, portanto, em certa medida a esvazia.

Quanto ao seu sonho, é sempre assombroso observar as sugestões, o mistério, a construção narrativa dos sonhos. Os seus, pelo que você me conta, costumam ter uma qualidade muito particular, uma concisão tremenda, uma simplicidade magnética. Esse assunto dos sonhos é sempre intrigante pois eles (os sonhos) parecem ser a matriz mais básicas das narrativas, de um funcionando semelhante ao do mito. Daí, talvez, a igual força que sentimos ao redor dos mitos.

Mas vamos lá. Sua viagem para o Reino da Dinamarca se aproxima. Que pensamentos assomam sobre a sua fronte?

Um abraço,

Thomaz

Em resposta a: João/Thomaz #12

João/Thomaz#12

Thomaz,

Things dark and heinous in this world, indeed.

Acho que nós (e a TV) temos uma inclinação para séries sombrias e/ou violentas com um forte tom realista. The Wire, Breaking Bad, The Sopranos, Rome, Game of Thrones, Twin Peaks etc.

Estava pensando esses dias que Breaking Bad é bem parecido com Lolita: parte de seu magnetismo está em ver o protagonista construindo o seu mundo particular onde suas ações são justificáveis ou, mesmo que assustadoras, plausíveis. No final, não temos certeza, ainda, se é muito doentio ter apreciado o que vimos ou lemos, se é muito bizarro dizer que gostamos muito da série ou do livro.

*** *** ***

Mudando de assunto. Uns dias atrás eu acordei ao som do despertador do meu celular, o qual desliguei. Quando olhei para a tela, havia uma anotação que eu não lembrava ter escrito, ainda sem salvar:

Mulher jovem gritando np cinema: a velha esta quente ela esya prested a pedir licenca

Fiquei olhando para aquilo sem saber se eu tinha acordado de verdade. Até que eu lembrei. Eu estava numa sala de cinema, vendo um filme em preto e branco e sentindo certo mal-estar, pra ser sincero. De repente, uma  mulher se levanta de uma das fileiras da frente. Ela é brilhante e preta e branca como os personagens do filme. Ela está desesperada e começa a gritar: “A velha está quente! Ela está prestes a pedir licença!” Ela queria dizer que a mãe dela estava morrendo.

Hediondo.

Abs,
João G.

Em resposta a: Thomaz/João #11

João/Stefano #1

Querido Stefano,

Recebi ontem um e-mail da Universidade de Copenhague (r)estabelecendo o prazo de resposta à minha inscrição no curso entre junho e julho. Assim, acredito que me faria bem deixar de lado essa questão, concentrar-me nas demais obrigações que têm seus prazos em junho (isto é, o semestre) e só depois disso me lembrar de qualquer chance de que eu vá para a Dinamarca.

Mas como nem sempre temos disciplina para escolher o que nos faria bem, quero relembrar e sonhar com você os nossos roteiros de viagem pela Europa. Pode ser que nenhum de nós cruze o Atlântico no próximo semestre, pode ser que só um de nós o faça, ou — Deus queira — pode ser que viajemos juntos. Em qualquer caso, é bom termos em mente o que faremos quando quer que venhamos a pisar no Velho Mundo.

Há dois lugares que posso classificar como “essenciais” no caso de a viagem ocorrer. Ei-los:

Poets’ Corner

1) Preciso assistir à cerimônia de entrega da estátua em homenagem a C. S. Lewis no Poets’ Corner da Abadia de Westminster. O aniversário de cinquenta anos de seu falecimento, quando a entrega deve ocorrer, é no dia 22 de novembro. Poderíamos, então, marcar a nossa viagem para a Bretanha para o final desse mês. Há também certa movimentação em Belfast (cidade natal do escritor) para que haja algum tipo de homenagem. Você tem algum plano impreterível nessa data?

2) “Há algo de podre no Reino da Dinamarca.” A corte de Hamlet ficava no castelo de Elsinore. O castelo verdadeiro de Helsingor, inspiração para o cenário da história, fica na costa nordeste da ilha da Zelândia, onde também fica Copenhague. Não podemos perder.

Citei esse dois lugares quase que só como desculpa para ouvir seus comentários sobre as cidades que você deseja visitar. Você, que conhece o lugar presencialmente, o que tem a dizer?

Abraços,

João G.

P.S.: Você sabe que é o fundador desta ideia, não é? Você foi o primeiro a enviar cartas de verdade e relativamente extensas aos seus amigos (no fim do ano passado). Posso dizer, no momento, que os seus desafios continuam me movendo adiante, e que aquilo já me ajudou imensamente.