Thomaz/João #1

J. Guilherme,

No domingo comentei com você sobre minha idéia de criar um blog de cartas. Foi uma dessas idéias chatas que não descansam até que a gente as transforme, de algum jeito, em realidade. E embora muitas dessas idéias arrefeçam logo que suas condições de possibilidades se realizam – um blog é criado, o frisson do começo é sublimado na ação -, eu acredito que essa idéia tem expectativa de vida mais sorridente.

Por que cartas? Há aquela primeira resposta presunçosa, em que a sinceridade e a brincadeira estão irremediavelmente enredadas, como inclusive em qualquer jogo: precisamos preservar nossos debates para a posteridade! Já não temos manuscritos. Sem cartas, o que os acadêmicos do futuro estudarão?

Mas, para além dessa justificativa, que obviamente não se sustenta, há uma muito mais urgente: é muito mais simples escrever uma carta do que um texto isolado, muito mais fácil falar sobre idéias e assuntos que nos interessam se motivados por um interlocutor específico que nos leia, escute e responda. Na verdade, todo texto responde a uma pergunta, mesmo que essa pergunta jamais tenha sido proferida. Mas, ao escrever uma carta, podemos fazer perguntas e formular respostas muito mais rápido do que alguém é capaz de dizer “dialogismo bakhtiniano”.

As possibilidades da carta são infinitas. Idéias podem ser formuladas e reformuladas, questionadas e explicadas e ilustradas e desconstruídas e demolidas e reerguidas… Começamos assim, com esse burocrático texto introdutório disfarçado por uma cenografia que a carta, matriz de gêneros, comporta muito bem. Mas é impossível dizer o que virá. Isso só depende de mim, de você, e de quantos mais se aventurarem nesse exercício. Porque nada é mais fértil que o diálogo, e se há diálogo, não podem haver conclusões e despedidas. Somente até logos, ainda que calados.

Aguardo sua resposta!

Um abraço,

Thomaz